É um cantar que nasceu pelos corredores da fronteira, e há muito tempo é assim, andejar e andejar, distâncias que são encurtadas pelas patas de fletes, e relatadas aqui pelo linguajar próprio, de campo.

Aqui vamos relatar o que vivenciamos, sentimos e até os sonhos que nos rodeiam, a cada passo do flete destino de quando em quando firmamos os arreios do pensamento e paramos n'alguma porteira divisora de razões, daí que brotam as discussões, cada um defende suas origens, peleiam por algum ideal, mas não podemos esquecer de que andamos sempre "Compondo Rastros".

Cada um tem seu passado que cruzou, deixou "rastros", por isso temos que firmar a rédea do destino e seguir firme na estrada que escolhemos, é por aí o caminho que estamos "Compondo Rastros".


"Sou herdeiro dos caminhos,
Do rastro que me condena
Canto aqui as minhas penas
Colhidas por tantos pagos
Aroma de terra e pasto
Adoçado de sentimento
Que se mesclou aos ventos
Pra compor os meus rastros"



Carlitos da Cunha de Quadros

Santa Maria - 24/07/2010

Tempo Chuvoso


Radio Fronteira Gaúcha

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Rancho...



                                                                       
                                                                               

Conheci muitos Antônios, mas aparto dois, por um motivo, ambos moraram em ranchos crioulos.
Construir a própria casa com elementos naturais, é um dos costumes mais fascinantes que temos.
Um deles foi por necessidade, o outro por escolha.
Mas certamente se igualaram na sensação que eu desconheço,
a de viver entre torrões de barro e palha de varzea, levar a vida do barreiro.
Sensação mais crioula que dormir e sonhar embaixo de uma quincha de santa-fé,
só mesmo a de dormir a campo, ou no lombo do cavalo, tropeando.

As dificuldades vividas perdem importância, e nem são lembradas por quem relata:
- Ergui meu rancho onde morou minha bisavó, vivi ali, campereava, domava.
No verão, abria as janelas para entrar o ar da manhã. Lavava o rosto na bacia com água e sabão,
e com a mesma água eu umedecia o chão do rancho. Fechava as janelas antes de sair pro campo,
e quando voltava no mormaço de meio-dia, encontrava minha morada fresca e perfumada do lado de dentro...

Essa é parte de uma conversa que certamente foi esquecida por outros que a escutaram,
que tem assuntos mais importantes para tratar.
Mas eu não pude esquecer por conter alguns aspectos importantes do que foi nossa realidade primitiva, e por serem as verdades de alguém que admiro.
Um desses dois ranchos eu pude conhecer, o outro já não existia na minha passagem.
O jeito foi atirar a ossamenta em meio aos trevos, sobre o pelego, embaixo do pala e o sereno da noite, pertinho da linha.
Pra no outro dia acordar entre pingos de tropilha e badalos de cincerro...


Sinais de um rancho no chão, no ermo de uma invernada
O que restou de um abrigo que um dia já foi morada,
Cinchou o instinto andarengo de quem não pára por nada
Cravou raizes profundas no ermo dessa invernada

N'alguma dobra do campo com sombra boa e aguada
A sanga fica mais perto, murmura na madrugada
Sem mais o vicio da estrada só lhe resta a companhia
Da caneleira copando as horas mansas do dia...


Frederico Souza - Lavras do Sul-
 Fevereiro de 2011




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